Justiça determina leilão de bens de traficantes presos em operação

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PF na casa de um dos chefes da quadrilha, em Campo Grande. (Foto: Gabriela Pavão/G1 MS)
PF na casa de um dos chefes da quadrilha, em Campo Grande. (Foto: Gabriela Pavão/G1 MS)

A Justiça Federal determinou o leilão dos bens dos traficantes presos pela operação Nevada, no dia 9 de junho de 2016, em Mato Grosso do Sul. Segundo a Polícia Federal, o patrimônio foi avaliado em R$ 10 milhões. Só o imóvel de um dos chefes, em Campo Grande, vale cerca de R$ 3 milhões.

Os integrantes da quadrilha levavam uma vida de luxo e ostentação. Os detalhes da decoração e do conforto mostra o cotidiano luxuoso. Em uma sala tem muitos móveis requintados como o sofá de R$ 18 mil como consta na nota fiscal, além da mesa de vidro de R$ 18,2 mil, que tem a base um tronco de árvore.

A polícia encontrou muitas peças de cristais, um faqueiro em prata de lei, xícaras e mais pratarias. Para ir para parte de cima da casa, tem de passar por uma escada de mármore. Vários quadros pela casa. No escritório, foi colocado um “trono” e uma foto do filme “O poderoso chefão” para decorar o ambiente.

Alguns armários embutidos foram destruídos pela PF que até quebraram as paredes para ser se encontravam alguma coisa. Há informações de que o dono da casa escondia dinheiro dentro dos armários e dentro das paredes.

Em um dos quartos, é possível ter noção da extravagância do morador. Coleção de óculos importados, muitas camisas, vários perfumes e também muitos calçados, nada foi usado.

Tudo está sendo catalogado porque vai ser vendido em leilão. De acordo com os leiloeiros, vai levar pelo menos 30 dias para fazer um levantamento de tudo: da quantidade e valores desses objetos. A Justiça Federal ainda não definiu a data do leilão.

Rolex todo de ouro foi apreendido na casa de um dos suspeitos. (Foto: PF/Divulgação)

“Todo o dinheiro arrecadado é depositado em instituição bancária oficial e depois, quando encerra o processo, aí o dinheiro é destinado. A destinação quem faz é a Secretaria Nacional Antidrogas. A Polícia Federal e a polícia do Distrito Federal recebem até 40%. A própria Secretaria Nacional Antidrogas para cumprir a sua missão na área de prevenção ao uso de droga, recebe também um percentual”, afirmou o juiz federal Odilon de Oliveira.

Operação

Segundo as investigações, o grupo comprava cocaína na Bolívia e seguia de avião até fazendas na região de Porto Murtinho, no Pantanal sul-mato-grossense. A droga era jogada da aeronave ainda no ar. Depois era levada de carro, caminhões e ônibus para São Paulo. Parte do carregamento também tinha como destino a Europa.

“O que chamou a atenção que era uma quadrilha bem estruturada, que movimentava altas quantias de recursos financeiros, possuía inúmeros bens e também movimentava grandes quantidades de cocaína”, disse o superintendente da PF, Ricardo Cubas César.

Três irmãos de Mato Grosso do Sul eram os chefes da quadrilha que trazia cocaína da Bolíviapara vender em São Paulo, segundo informações da PF. A organização criminosa, que contava ainda entre as lideranças com um testa de ferro, que ficava em Campo Grande.

Esse testa de ferro era encarregado de fazer a lavagem do dinheiro do tráfico, e um homem que fazia a comercialização da droga em São Paulo. A ação foi realizada simultaneamente em Campo Grande, Bonito e Bodoquena, em Mato Grosso do Sul, em Rondonópolis, no Mato Grosso e em São Paulo, Guarulhos, Suzano, São Bernardo do Campo e no Guarujá, em São Paulo.

“A maioria das pessoas, principalmente os chefes da organização, eles não possuíam uma atividade lícita para justificar esse patrimônio que eles tinham. Eles utilizavam várias pessoas como laranja para figurar como proprietários dos bens, sejam bens imóveis, até mesmo veículos de alto valor. Apreendemos vários veículos com valores de mercado acima de R$ 400 mil”, afirmou Cubas.

Lavagem de dinheiro

O dinheiro do tráfico era lavado pelo testa de ferro da quadrilha, por meio de uma garagem de veículos em Campo Grande, com a compra de imóveis e com o uso de laranjas. Mazzotti comenta o homem encarregado da lavagem possuía uma renda alegada em razão de sua empresa de R$ 6,5 mil, mas em um período de quatro anos, entre 2010 e 2014, movimentou R$ 14 milhões.

A vida luxuosa do homem encarregado de fazer a lavagem do dinheiro, foi, conforme o delegado, uma das causas do início da investigação.

Ele explica que o suspeito além de promover constantemente festas em sua casa, um imóvel de alto padrão no bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande, ainda ostentava o uso de veículos de luxo, alguns avaliados em até R$ 600 mil.

O nome da operação, Nevada, inclusive, foi escolhido porque fazia referência a rua onde o suspeito de ser o testa de ferro mora em Campo Grande, a rua Serra Nevada. Entre os alvos da ação nesta quinta-feira, inclusive, estiveram a própria casa do suspeito e a garagem, onde foram apreendidos alguns veículos de luxo. Em outros locais foram apreendidas carretas que eram usadas no transporte da droga.

Na casa do suspeito os policiais encontraram armas, munição, dinheiro e drogas. Eles precisaram até usar uma marreta para fazer um buraco em uma fossa onde tinha sido jogado um telefone celular.

Carreta apreendida pela Polícia Federal na Operação Nevada. (Foto: Anderson Viegas/G1 MS)

Investigação

Pelo alto grau de organização da quadrilha, a Polícia Federal suspeita, conforme o chefe da delegacia de Repressão a Entorpecentes da unidade, Fabrício Martins Rocha, que o grupo vinha agindo no estado desde 2011.

A investigação sobre a organização criminosa começou em 2014 e neste período já resultou em prisões em flagrante com a apreensão de 778 quilos de cocaína, US$ 2,2 milhões, R$ 38 mil, 1 pistola calibre 9 milímetros, 2 revólveres, 1 fuzil 5,56 milímetros e munições de diversos calibres.

O delegado regional de Combate ao Crime Organizado explica que operações como a realizada nesta quinta-feira têm como objetivo principal promover a desarticulação econômica das quadrilhas, além da prisão dos suspeitos e de material ilícito, porque isso dificulta o retorno das operações destes grupos criminosos.

Ele ressaltou ainda que em razão do tamanho da operação da organização criminosa, a PF federal levou 23 meses para concluir as investigações, de modo que mapeasse desde como funcionava a entrada de droga no país, a comercialização e como o dinheiro era lavado.

Os suspeitos presos nesta quinta serão indiciados por crimes como organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de ativos.

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